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Thiago Gonçalves

Como um planeta resiste a uma estrela morrendo? A ciência quer saber

UOL Tecnologia

04/12/2019 20h00

A ilustração mostra uma impressão artística do sistema da anã branca e o planeta gigante gasoso orbitando ao seu redor. A radiação ultravioleta causa a evaporação da atmosfera do planeta. Créditos: ESO/M. Kornmesser

Por Thiago S. Gonçalves

Pela primeira vez, astrônomos detectaram sinais de um planeta orbitando uma anã branca. O estudo, liderado por Boris Gänsicke, da Universidade de Warwick, é uma importante contribuição para podermos entender como sistemas planetários se formam e, nesse caso particular, como sobrevivem à morte das estrelas que orbitam.

Na maior parte dos casos, planetas são descobertos pelo efeito que causam na estrela próxima. Por exemplo, ao passar em frente à estrela, acabam por diminuir um pouco seu brilho aparente. Ou então podemos também detectar o pequeno puxão gravitacional gerado pelo próprio planeta na estrela.

Neste caso, a coisa foi um pouco diferente. Os astrônomos notaram que a anã branca WDJ0914+1914 apresentava uma composição química incomum, e resolveram investigar o problema mais a fundo.

Usando o instrumento X-shooter, no telescópio VLT, no Chile, puderam verificar que a anã branca tinha uma grande quantidade de hidrogênio, oxigênio e enxofre –algo nunca visto antes nesse tipo de astro. Mais, esses elementos não estavam na própria anã branca, mas em um tênue disco ao seu redor.

A única solução possível para essas características seria a evaporação da atmosfera de um planeta gigante gasoso. O planeta está muito próximo à anã branca, e a forte radiação ultravioleta emitida por ela está fazendo com que sua atmosfera seja violentamente arrancada.

Por que isso é importante?

Anãs brancas são, de certa forma, o que sobra após a morte de uma estrela. É o que vai acontecer com o Sol, em 5 bilhões de anos: ao esgotar seu combustível, vai expelir grande parte de seu material e o que sobra é um caroço muito denso, com a massa de uma estrela mas o tamanho aproximado da Terra.

É um evento violento. Durante o processo, enquanto perde suas camadas externas, espera-se que o Sol cresça até engolir a Terra e os planetas internos. Por isso mesmo a descoberta é tão interessante: como o planeta está tão próximo da anã branca, e como sobreviveu? Estava ali antes da estrela morrer, ou se aproximou da anã branca posteriormente? Será que isso vai acontecer no futuro com algum de nossos vizinhos, como Urano ou Netuno?

Como em muitos casos na Astronomia, o mais excitante não é a descoberta em si, mas o muito que esperamos aprender sobre esse novo fenômeno nos próximos anos.

Sobre o blog

O assunto aqui é Astronomia, num papo que vai além dos resultados. Conversamos sobre o dia-a-dia dos astrônomos, como as descobertas são feitas e a importância da astronomia nacional — afinal, é preciso sempre lembrar que existe pesquisa científica de qualidade no Brasil!

Sobre o autor

Thiago Signorini Gonçalves é doutor em Astrofísica pelo Instituto de Tecnologia da Califórnia. Atua como professor de Astrofísica no Observatório do Valongo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e é coordenador de comunicação da Sociedade Astronômica Brasileira. Utilizando os maiores telescópios da Terra e do espaço, estuda a formação e evolução de galáxias, desde o Big Bang até os dias atuais. Apaixonado por ciência, tenta levar os encantos do Universo ao público por meio de atividades de divulgação científica.