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Thiago Gonçalves

Até mesmo as galáxias precisam de "isolamento social" para se proteger

Thiago Signorini Gonçalves

24/04/2020 04h00

Aglomerado de galáxias Abell 370, observado pelo telescópio espacial Hubble (Imagem: Nasa, ESA, A. Koekemoer (STScI), M. Jauzac (Durham University), C. Steinhardt (Niels Bohr Institute) e a equipe Buffalo)

Sabia que galáxias também estão mais seguras em isolamento social? Mas não é por causa de nenhuma quarentena, e sim pelos efeitos físicos que acontecem frequentemente em ambientes onde a densidade de galáxias é muito alta, chamados pelos astrônomos de aglomerados.

Mas antes precisamos entender um detalhe: galáxias podem morrer? De certa forma sim. Muitas galáxias, como a nossa própria Via Láctea, estão constantemente formando novas estrelas. Essas galáxias se formam a partir do gás hidrogênio disponível em seu interior. No entanto, quando esse gás se perde, esses berçários estelares deixam de existir, e às galáxias lhes restam apenas as estrelas mais velhas.

O grande problema é que dificilmente as galáxias em regiões mais densas do universo conseguem manter esse gás, devido aos eventos frequentes e violentos que acontecem nesses ambientes. Por exemplo, em aglomerados a colisão entre galáxias acontece repetidamente. Essas colisões são capazes de expulsar o gás através de interações gravitacionais.

Mesmo quando as galáxias não colidem frontalmente, uma aproximação rápida já pode ter um efeito devastador. Em um processo conhecido como assédio galáctico, dois objetos passando próximos um do outro podem arrancar o gás de um deles pela força da gravidade.

Por outro lado, os aglomerados não são apenas regiões com alta concentração de galáxias. Existe ali também um gás quente e viscoso, com temperaturas que atingem centenas de milhões de graus – como o interior do Sol! A mera fricção do gás frio dentro da galáxia com essa substância quente é capaz de matar uma galáxia. Pior, esse gás quente não pode mais voltar, e a galáxia morre asfixiada.

Como vocês podem ver, a vida de uma galáxia é muito mais segura quando está isolada, a salvo dos processos nocivos que acontecem em aglomerados. Pois então, façam como as galáxias saudáveis e fiquem em casa!

 

Sobre o blog

O assunto aqui é Astronomia, num papo que vai além dos resultados. Conversamos sobre o dia-a-dia dos astrônomos, como as descobertas são feitas e a importância da astronomia nacional — afinal, é preciso sempre lembrar que existe pesquisa científica de qualidade no Brasil!

Sobre o autor

Thiago Signorini Gonçalves é doutor em Astrofísica pelo Instituto de Tecnologia da Califórnia. Atua como professor de Astrofísica no Observatório do Valongo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e é coordenador de comunicação da Sociedade Astronômica Brasileira. Utilizando os maiores telescópios da Terra e do espaço, estuda a formação e evolução de galáxias, desde o Big Bang até os dias atuais. Apaixonado por ciência, tenta levar os encantos do Universo ao público por meio de atividades de divulgação científica.