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Thiago Gonçalves

Cientistas encontram buraco negro mais próximo da Terra; entenda

Thiago Signorini Gonçalves

06/05/2020 12h51

Impressão artística do movimento de duas estrelas ao redor do buraco negro no sistema HR 6819. Créditos: ESO/L. Calçada

Astrônomos do Observatório Europeu do Sul divulgaram hoje a descoberta do buraco negro mais próximo à Terra já observado. Isso foi possível através da análise da órbita de duas estrelas ao seu redor: o movimento detectado só poderia ser explicado com a existência de um terceiro objeto escuro no sistema.

Com cerca de 5 vezes a massa do Sol, o objeto no sistema HR 6819 está a aproximadamente 1000 anos-luz de distância. Embora isso possa parecer distante, em termos astronômicos isso é tão próximo que o sistema estelar pode ser observado a olho nu, na constelação do Telescópio, em uma noite escura fora de centros urbanos. Infelizmente, veríamos apenas um pontinho brilhante, já que para detectar o movimento de estrelas é preciso utilizar os avançados instrumentos à disposição no Observatório de La Silla, como a câmera FEROS utilizada no estudo.

Buracos negros e buracos negros

Vale lembrar que nem todos os buracos negros são iguais. Existem aqueles supermassivos, no centro de galáxias, feito a partir do acúmulo de material à disposição naquela região e com massas de milhões a bilhões de vezes à do nosso Sol. Buracos negros estelares, por outro lado, são o resultado da morte de uma estrela, e possuem massa de apenas algumas vezes a do Sol.

Além disso, muitas vezes a gravidade do buraco negro gera interações violentas com o gás ao seu redor, o que produz raios-X e outros eventos eletromagnéticos muito brilhantes. No entanto, espera-se que a maioria dos buracos negros em nossa galáxia sejam efetivamente escuros, o que dificulta muito sua detecção. A descoberta de um tão próximo de nós nos permite estudar os fenômenos que levaram à sua formação com muito mais detalhes. O principal autor do estudo, Thomas Rivinius, explica: "deve haver centenas de milhões de buracos negros lá fora, mas conhecemos pouquíssimos. Saber como buscá-los nos coloca em uma posição muito mais favorável para encontrá-los."

De onde vêm as ondas gravitacionais

Os autores concluem o estudo discutindo também as perspectivas para a detecção de ondas gravitacionais. Em sistemas estelares múltiplos como HR 6819, pode haver a formação não apenas de um, mas de vários buracos negros próximos, ou de buracos negros próximos a estrelas de nêutrons.

Eventualmente, esses objetos se aproximarão e se fundirão em um só, em um evento cataclísmico que pode gerar fortes ondas gravitacionais. Dessa forma, descobertas como essa nos permitem não apenas estudar a morte de estrelas, mas também o destino final de objetos astronômicos compactos e a própria distorção no tecido do espaço-tempo gerada pelas ondas gravitacionais.

Sobre o blog

O assunto aqui é Astronomia, num papo que vai além dos resultados. Conversamos sobre o dia-a-dia dos astrônomos, como as descobertas são feitas e a importância da astronomia nacional — afinal, é preciso sempre lembrar que existe pesquisa científica de qualidade no Brasil!

Sobre o autor

Thiago Signorini Gonçalves é doutor em Astrofísica pelo Instituto de Tecnologia da Califórnia. Atua como professor de Astrofísica no Observatório do Valongo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e é coordenador de comunicação da Sociedade Astronômica Brasileira. Utilizando os maiores telescópios da Terra e do espaço, estuda a formação e evolução de galáxias, desde o Big Bang até os dias atuais. Apaixonado por ciência, tenta levar os encantos do Universo ao público por meio de atividades de divulgação científica.