O que usar a Lua como espelho nos ensina sobre o universo
Já pensou se pudéssemos usar a Lua para buscar vida em outros planetas? Não se preocupem, não estou falando de alienígenas lunares, mas de um projeto científico inovador que usou o telescópio espacial Hubble e um eclipse lunar para aprimorar a técnica de busca por vida no Universo.
Sabemos hoje que planetas são abundantes. A Via Láctea, nossa galáxia, deve ter bilhões deles, muitos semelhantes à Terra –ou seja, planetas rochosos, a uma distância segura de sua estrela para que não seja muito quente ou muito frio. No entanto, isso não quer dizer que abriguem vida em sua superfície. Mesmo se pensarmos apenas em bactérias, como podemos saber que elas existem em outros planetas?
O telescópio espacial James Webb, que será lançado no ano que vem, espera ajudar a responder essa pergunta. A ideia é relativamente simples: ao analisar a luz que atravessa a atmosfera de um planeta, quando ele se encontra entre nós e a estrela que orbita, podemos analisar a composição química dos gases ao redor do planeta. Dessa forma, podemos buscar por dióxido de carbono ou alguma outra molécula que indique a presença de organismos vivos na superfície planetária.
No entanto, como poderíamos reconhecer essas assinaturas químicas? Afinal, o único planeta com vida que conhecemos é a Terra. Nossa casa deve então servir de parâmetro de comparação. O problema é saber como repetir o experimento. Não podemos apontar nenhum telescópio diretamente para o Sol, e o fato de estarmos "dentro" da atmosfera terrestre dificulta muito esse tipo de observação.
A solução encontrada por Allison Youngblood (Universidade de Colorado e do Instituto Goddard/Nasa) e seus colaboradores foi engenhosa. Eles utilizaram o telescópio espacial Hubble e apontaram… para a Lua. Durante um eclipse, toda a luz solar que atinge a superfície lunar atravessou a atmosfera terrestre, afinal a Terra se encontra exatamente entre o Sol e a Lua – por isso vemos a Lua avermelhada durante um eclipse. Ao analisar essa luz durante e após o eclipse, a equipe conseguiu medir a variação causada pela interferência da atmosfera.
Os cientistas estavam buscando sinais de ozônio, um subproduto do oxigênio que é tão fundamental para a manutenção da vida em nosso planeta. E, de fato, conseguiram observar como a luz ultravioleta era bloqueada pela atmosfera terrestre. Assim como o ozônio nos protege dessa radiação causadora do câncer, ele também aparece nas observações da Lua!
Isso abre portas importantes para a busca pela vida em outros planetas. Será que algum mundo em nossa galáxia possui uma composição química semelhante à da Terra? Será que encontraremos um planeta com oxigênio e carbono nos próximos anos?
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