Topo

Thiago Gonçalves

Terra adota uma nova Lua só por um tempo, e isso é bem comum no espaço

Thiago Signorini Gonçalves

28/02/2020 04h00

Impressão artística de um asteroide orbitando a Terra (Nasa)

Você já ouviu dizer que alguém é de Lua? Como se fosse inconstante, suscetível a mudanças? Bom, imagino que isso deve ser por causa das fases da Lua. Mas e se nem a Lua fosse algo constante, como um corpo que está temporariamente no céu e depois vai embora?

É exatamente isso que está acontecendo com 2020 CD3, como é chamado o asteroide recém-descoberto pelos astrônomos Theodore Pruyne e Kacper Wierzchos, como parte do projeto Levantamento do Céu Catalina. O pequeno corpo, com apenas alguns metros de diâmetro, foi capturado pelo campo gravitacional da Terra há cerca de 2 anos, mas só foi visto agora justamente por causa de seu tamanho diminuto.

Não é a primeira vez que isso é observado. Em 2006, o objeto RH120 foi descoberto em condições semelhantes, orbitando a Terra temporariamente durante alguns meses.

O mais interessante desses casos é a efemeridade do fenômeno. As simulações mostram que CD3 deve orbitar a Terra até abril deste ano, quando será lançado de volta ao espaço.

Isso mostra como as condições no Sistema Solar mudam constantemente. Ao contrário do que muita gente pode pensar, os corpos não estão em órbitas permanentes e podem mudar de lugar. Interações com planetas maiores podem lançar asteroides de um lado para o outro, e até a pressão causada pela luz emitida pelo Sol pode alterar a órbita de corpos pequenos!

A própria Lua, essa que você vê no céu, está se afastando de nós, a uma taxa de quatro centímetros por ano. Isso acontece devido a efeitos relacionados à interação gravitacional com a Terra e as marés causadas por essa interação.

Existe até mesmo um modelo teórico que afirma que, em sua origem, o Sistema Solar possuía um quinto planeta gigante (além de Júpiter, Saturno, Urano e Netuno), que foi expelido por interações gravitacionais semelhantes. Isso ainda não foi confirmado, mas, como podem ver, os planetas e outros objetos ao nosso redor não são nada constantes.

Será que tudo isso quer dizer que quem nasce até abril pode ter o asteroide CD3 como regente do signo? Afinal, tudo está em constante movimento, por que não?

Sobre o blog

O assunto aqui é Astronomia, num papo que vai além dos resultados. Conversamos sobre o dia-a-dia dos astrônomos, como as descobertas são feitas e a importância da astronomia nacional — afinal, é preciso sempre lembrar que existe pesquisa científica de qualidade no Brasil!

Sobre o autor

Thiago Signorini Gonçalves é doutor em Astrofísica pelo Instituto de Tecnologia da Califórnia. Atua como professor de Astrofísica no Observatório do Valongo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e é coordenador de comunicação da Sociedade Astronômica Brasileira. Utilizando os maiores telescópios da Terra e do espaço, estuda a formação e evolução de galáxias, desde o Big Bang até os dias atuais. Apaixonado por ciência, tenta levar os encantos do Universo ao público por meio de atividades de divulgação científica.