Brasil também lidera superprojeto que explora novos detalhes do Universo
Astrônomos divulgaram no começo do mês a primeira imagem do projeto J-PAS (Levantamento de Javalambre sobre a Física do Universo Acelerado, na sigla em inglês). Com mais de um bilhão de pixels, é a segunda maior câmera astronômica do mundo, e o projeto é coliderado por cientistas brasileiros. O instrumento está instalado no observatório de Javalambre, na Espanha, e conta com um telescópio de 2,5 metros de diâmetro.
No entanto, o tamanho da câmera não é a única inovação do projeto. Ao invés de observar apenas em 4 ou 5 cores, como é comum nesse tipo de levantamento, o J-PAS observará 56 cores de cada região do céu. Esse tipo de informação permite a cientistas obter informações muito mais precisas sobre as propriedades físicas e as distâncias dos astros observados.
As possibilidades são tantas que o projeto permite a participação de diversos astrônomos e astrônomas de todo o país. A supercâmera permitirá novos estudos sobre galáxias, asteroides, estrelas, supernovas, cosmologia, uma enorme variedade de tópicos para todos os gostos. Não é à toa que são quase 100 cientistas brasileiros participando ativamente do projeto.
A professora Denise Rocha Gonçalves, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é uma das participantes e planeja usar os dados do levantamento para estudar as nebulosas planetárias, que são remanescentes de estrelas semelhantes ao Sol que já morreram. "Estudamos esses dados com lupa, usando ferramentas feitas especificamente para ver nebulosas planetárias, com o objetivo de mapear esses dois tipos de restos estelares dentro da Via Láctea e em galáxias próximas", diz Gonçalves.
Protagonismo brasileiro
O mais importante, na minha opinião, é notar a relevância da participação brasileira no projeto. Ao invés de sentar no banco do carona e acatar as decisões tomadas por cientistas de outros países, o Brasil tem aqui a oportunidade de liderar as tomadas de decisão. Além disso, vale ressaltar a importância da transferência tecnológica, permitindo o treinamento de especialistas no país e facilitando o desenvolvimento de projetos semelhantes no futuro.
Tudo isso graças ao investimento de cerca de dois terços dos 10 milhões de euros que a câmera custou, financiado por agências de fomento nacionais e estaduais. Se parece muito, lembrem que os grandes projetos astronômicos atuais, como o Telescópio Extremamente Grande no Chile (de 39 metros de diâmetro) têm valor estimado em mais de um bilhão de euros. Sem contar o telescópio espacial James Webb, saindo pela bagatela de US$ 10 bilhões.
Se o Brasil quiser "sair da mesa das crianças e sentar com os adultos", é fundamental que participemos como líderes em projetos de ponta. Caso contrário, seremos sempre sócios minoritários, restritos a pesquisas menos ambiciosas e sujeitos às decisões estratégicas de outras comunidades.
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