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Como a astronomia poderia ajudar na busca pelo OVNI de Magé?

Thiago Signorini Gonçalves

13/05/2020 12h52

Ilustração do telescópio Vera Rubin quando estiver pronto (Divulgação)

Nas redes sociais só se fala do OVNI de Magé. Será que um alienígena foi mesmo visitar o interior do estado do Rio de Janeiro? Como São Tomé e qualquer bom cientista, eu só acredito vendo, e até agora não vi nada remotamente confiável.

Mas vocês já pararam para pensar como a astronomia poderia contribuir para a busca por OVNIs? Vou tentar explicar um pouco aqui.

A era dos grandes levantamentos

Atualmente, a astronomia vive uma grande revolução. Graças aos avanços em tecnologia de detectores e mineração de dados, somos capazes de construir telescópios que não observam apenas uma ou duas estrelas no céu de cada vez, mas que fazem grandes varreduras registrando uma porção significativa de toda a esfera celeste em apenas uma noite.

O próximo grande projeto do tipo será o Telescópio Vera Rubin, no Chile, uma grande colaboração internacional que conta também com a participação do Brasil. Com um espelho gigantesco de 8 metros e uma câmera de mais de 3 gigapixel, o observatório poderá monitorar uma enorme região do céu em um curto intervalo de tempo.

Ainda mais importante, o observatório, com inauguração prevista entre 2020 e 2021, fará várias imagens seguidas do céu. Compostas em sequência, essas imagens produzirão um filme detalhado do cosmos durante o tempo de operação do telescópio.

Munidos então de supercomputadores, cientistas poderão buscar nesse enorme banco de dados – estamos falando de dezenas de milhares de terabytes! – qualquer coisa que mude de uma hora para outra. Isso pode ser um objeto variável como uma supernova, que aparece como um ponto brilhante em um determinado momento, ou um pequeno corpo no sistema solar, como um cometa ou asteroide ainda desconhecido, que muda de posição ao longo do tempo.

E se houvesse uma nave alienígena chegando, mesmo antes da inauguração do Vera Rubin, provavelmente já seríamos capazes de ver esse OVNI com os instrumentos existentes.

Teorias conspiratórias e as redes de colaborações científicas

Imagino que muitos de vocês devem estar pensando que, nesse caso, a Nasa ou alguma outra agência esconderia a descoberta se um disco voador fosse detectado nessas imagens.

O problema é que esses projetos não são conduzidos por um pequeno grupo de cientistas excêntricos reunidos em uma sala, como se vê nos filmes. Não. Esses projetos contam com milhares de pesquisadores em todo o mundo e todos têm acesso imediato aos dados e imagens.

Os alertas de objetos variáveis serão produzidos automaticamente, detectados por um programa de computador, e enviado a qualquer astrônomo interessado em acompanhar as descobertas.

Com todo esse aparato, é difícil acreditar que um segredo como a descoberta de vida extraterrestre pudesse ser mantido. Então não se preocupem; se descobrirmos discos voadores, vocês ficarão sabendo.

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Sobre o blog

O assunto aqui é Astronomia, num papo que vai além dos resultados. Conversamos sobre o dia-a-dia dos astrônomos, como as descobertas são feitas e a importância da astronomia nacional — afinal, é preciso sempre lembrar que existe pesquisa científica de qualidade no Brasil!

Sobre o autor

Thiago Signorini Gonçalves é doutor em Astrofísica pelo Instituto de Tecnologia da Califórnia. Atua como professor de Astrofísica no Observatório do Valongo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e é coordenador de comunicação da Sociedade Astronômica Brasileira. Utilizando os maiores telescópios da Terra e do espaço, estuda a formação e evolução de galáxias, desde o Big Bang até os dias atuais. Apaixonado por ciência, tenta levar os encantos do Universo ao público por meio de atividades de divulgação científica.