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Thiago Gonçalves

Estrela superbrilhante "adia" sua morte e pode ganhar manchas gigantescas

Thiago Signorini Gonçalves

02/07/2020 04h00

Impressão artística da estrela Betelgeuse, coberta por gigantescas manchas estelares (MPIA)

É, pessoal, foi bom enquanto durou. Por algumas semanas, no começo do ano, acreditávamos que poderíamos ver uma supernova nos céus. Betelgeuse, após uma forte diminuição de brilho, iria nos brindar com um raro espetáculo cósmico. Eu até escrevi sobre isso em janeiro. Infelizmente, astrônomos do Instituto de Astronomia Max Planck, na Alemanha, liderados por Thavisha Dharmawardena, parecem ter explicado o fenômeno – e não devemos esperar uma supernova tão cedo.

Explicando: Betelgeuse é uma supergigante vermelha na constelação de Orion, uma das dez estrelas mais brilhantes do céu. Com mais de dez vezes a massa do Sol e quase mil vezes o seu tamanho (!), sabemos que ela representa os estágios finais da vida de uma grande estrela. Todos os modelos indicam que ela em breve morrerá, explodindo em uma supernova que pode ficar tão brilhante no céu noturno quanto a Lua (!!). O problema é que esse em breve", em termos astronômicos, pode ser a qualquer momento nos próximos cem mil anos (!!!).

Todos os astrônomos ficaram animados, então, quando Betelgeuse começou a diminuir de brilho em novembro de 2019, chegando a 50% de sua luminosidade original em fevereiro de 2020. Estaria a estrela dando seus últimos suspiros? Não foi bem assim, e entre abril e maio ela ficou ainda um pouco mais brilhante que antes. Se a explosão não aconteceu, restou a pergunta: afinal, o que estava acontecendo?

A principal hipótese levantada foi uma camada de poeira encobrindo a estrela. Sabemos que supergigantes como Betelgeuse são instáveis, pulsando regularmente e lançando nuvens de gás e poeira ao espaço. Antes de se dissipar, essas nuvens poderiam encobrir um pouco sua estrela progenitora.

Considerando essa possibilidade, astrônomos buscaram então sinais dessa poeira. Sabendo que ela emitiria muita radiação de microondas, apontaram suas antenas na direção de Betelgeuse, esperando encontrar um aumento desse tipo de energia. O resultado foi surpreendente: a estrela havia diminuído sua emissão de microondas, assim como diminuiu seu brilho luminoso.

Ao juntar esse resultado com imagens de altíssima resolução obtidas recentemente da superfície de Betelgeuse, um novo cenário parecia mais plausível: o surgimento de gigantescas manchas na superfície da estrela, cobrindo de 50 a 70% de sua superfície.

Manchas estelares não são nenhuma novidade; afinal, o nosso próprio Sol apresenta manchas, que são regiões mais frias da superfície estelar, geradas pela atividade magnética. No entanto, no caso do Sol, as manchas nunca cobrem mais de 0,5% de sua superfície, o que coloca as manchas de Betelgeuse em um patamar inédito.

Se forem mesmo manchas, Betelgeuse deve apresentar uma variação periódica de brilho, devido a um ciclo magnético análogo ao solar. Dessa forma, para comprovar a hipótese, os autores do estudo propõem um cuidadoso monitoramento da luminosidade de Betelgeuse durante os próximos anos, buscando uma diminuição de brilho semelhante no futuro.

Sobre o blog

O assunto aqui é Astronomia, num papo que vai além dos resultados. Conversamos sobre o dia-a-dia dos astrônomos, como as descobertas são feitas e a importância da astronomia nacional — afinal, é preciso sempre lembrar que existe pesquisa científica de qualidade no Brasil!

Sobre o autor

Thiago Signorini Gonçalves é doutor em Astrofísica pelo Instituto de Tecnologia da Califórnia. Atua como professor de Astrofísica no Observatório do Valongo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e é coordenador de comunicação da Sociedade Astronômica Brasileira. Utilizando os maiores telescópios da Terra e do espaço, estuda a formação e evolução de galáxias, desde o Big Bang até os dias atuais. Apaixonado por ciência, tenta levar os encantos do Universo ao público por meio de atividades de divulgação científica.